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A mostrar mensagens de dezembro, 2010

T.I. ft. Eminem - "That's All She Wrote"

A guitarra prende uma pessoa à cadeira. As mudanças de registo a meio da viagem de T.I. e o aguaceiro de sílabas de Eminem fazem o resto.

Diddy - Dirty Money ft. Skylar Green - "Coming Home"

A comparação entre pelo menos este tema e o último de Kanye West é óbvia e inevitável. Tradução: aqui está o que KW podia ter feito, uma coisa épica, íntima e inspiradora, mas francamente mais consistente e muito mais bem cantada, e muito menos "Atenção: eu sou um artista a sério, estão a ver?". Pena que o álbum que aloja "Coming Home" esteja a sair numa altura em que a maioria dos balanços do ano já estejam fechados, porque ele merece estar lá.

Ben Verse - "Dark Star"

É o contraste entre a forma como a batida atravessa os tímpanos como faca quente em manteiga, e os detritos astrais que bailam, em gravidade zero, no seu redor.

GD & TOP - "High High"

Claramente, a malta lá muito a Leste sabe perfeitamente como se divertir. E é bom perceber que o método The Black Eyed Peas vai fazendo escola.

Supertramp

Publicado em Agosto de 2010 na Time Out: Supertramp Pavilhão Rosa Mota Terça-feira 14 Eles são ingleses mas o seu ar e o seu som parece americano – para onde de facto se mudaram quando chegaram ao auge da fama na segunda metade dos anos 70. O que fazem é pop, mas com o aparato humano e técnico do rock progressivo e a mestria do funk branco de alta-costura. Parecia que não havia revivalismo dos 70s que lhes desse uma (absolutamente desnecessária, como é evidente, mas ainda assim vantajosa) nova camada de verniz cool, mas o feito, embora de alcance limitado, lá aconteceu em 1999 quando Paul Thomas Anderson incluiu “Goodbye Stranger” e “The Logical Song” na malha narrativa do estonteante Magnolia. Por essa altura ainda havia Supertramp, embora em ritmo de suave gestão da carreira e dos muitos e muito fiéis fãs. Roger Hodgson, carismático co-fundador do grupo com Rick Davies, já abandonara o grupo em 1983 – os ácidos mudaram-lhe a vida, despachando-o para uma carreira a solo e uma e

The Chemical Brothers

Publicado em Agosto de 2010 na Time Out: The Chemical Brothers Further Virgin/EMI **** Ao sétimo álbum, os Chemical Brothers suspendem as canções com ar de singles e montam uma obra vagamente conceptual em oito capítulos. Uma obra de psicadelismo exuberante, motórika, certas vezes kraftwerkiana, outras a rasar os Mercury Rev (coisa pouco avisada, quase indie). O CD é acompanhado por um DVD que dá soberbas imagens a toda a ópera cósmica para sintetizadores, e quem já os viu ao vivo sabe que esta sintestesia faz o maior sentido. “Escape Velocity”, em todos os seus gloriosos 12 minutos de trance com salpicos dos Who, há-de ser mais um standard a acrescentar aos seus espectáculos. Os caminhos da música de Tom Rowlands e Ed Simons são de uma grande simplicidade.

Kylie Minogue

Publicado em Julho de 2010 na Time Out: Kylie Minogue Aphrodite Parlophone/EMI **** “All the Lovers”, o single que anunciou Aphrodite, é o tipo de afirmação voluptuosa e ansiosa e só um pouco triste que todas as lendas da pop dançável deviam produzir quando sabem que a vida que celebram nas suas canções é a vida que pretendem seguir, sabiamente, até ao fim. E Kylie Minogue deve sabê-lo. Há um certo ar de ocaso e de utopia inalcançável em “All the Lovers”, que usa a mesma matriz do sublime “The One”, de 2007, a que adiciona um pouco mais de sombra. Este é um disco que sabe melhor o que quer fazer e para onde tenciona ir do que os anteriores X e Body Language, e sabe-o porque assenta na linguagem que vai melhor com Kylie, não permitindo distracções: a de diva hetero/ gay/ etc. das pistas da era pós-rave. Aphrodite não passa, então, pelos altos e baixos de demasiados álbuns de Kylie, e para essa solidez muito contribui Stuart Price, alquimista da pop electrónica deste tempo que a

Scissor Sisters

Publicado em Julho de 2010 na Time Out: Scissor Sisters Night Work Polydor/Universal **** Night Work começa com um tema-título que sabe a Nova Iorque em 1979, as cores suadas em tons Betamax. A música é disco-rock que traz à baila Donna Summer e Patrick Cowley – e Giorgio Moroder, que é o pai desta gente toda, gostará de ouvir a forma como, mais à frente, “Skin Tight” se funde em “Sex and Violence”. Assim estabelecido o cenário físico, temporal, sensual e sonoro do terceiro álbum dos Scissor Sisters, é só olhar para a frente e dançar. “Whole New Way” diverte-se divertindo-se com o sexo anal de uma forma tão explícita quanto travessa e ainda rara na pop. “Any Which Way” e “Harder You Get” vão por caminhos idênticos, tratando o innuendo como forma de arte (idem para “Skin This Cat”, esta em versão hetero cantada por Ana Matronic). “Running Out” tem um arranque que é um irmão gémeo de “She Sells Sanctuary” dos Cult. “Fire With Fire” é o estupendo hit da rádio e do estádio que o

GNR

Publicado em Julho de 2010 na Time Out: GNR Retropolitana Farol *** O dom pop dos GNR está todo neste álbum que fecha um enorme intervalo de oito anos nos registos de originais – mesmo que esse dom não se encontre democraticamente distribuído pelas 12 faixas. Os puzzles líricos de Rui Reininho também permanecem um primor, quer saiam em dias mais insatisfeitos, bem-humorados, arrebatados, cáusticos ou meditabundos – e os puzzles, esses sim, batem certo em todos os sítios de Retropolitana. Aos primeiros encontros, o disco parece rondar o tom de Popless, de 2000, mesmo não possuindo o requinte daquele marco da soft-pop-rock lusa. (Em todo o caso, de quem o novo CD está sonicamente mesmo muito longe é da acridez de Do Lado dos Cisnes, de 2002.) Todavia, e apesar de Retropolitana difundir um tom geral de descompressão – e o efeito cumulativo de algumas faixas mais lentas é quase contemplativo –, é nos álbuns da primeira metade dos anos 90 que a memória vai encontrar maior familiar

The Bloody Beetroots

Publicado na Time Out em Junho de 2010: The Bloody Beetroots Teatro Sá da Bandeira Quinta-feira 8 Porque é que alguém havia de fazer música sob o nome artístico de Beterrabas Sangrentas? Respostas possíveis: porque Bobby Rifo e Tommy Tea vêm de Itália, um país que gosta genuinamente de Silvio Berlusconi; e porque Bobby e Tommy juntam forças para criar electro house maximal, um género que, pese os seus inúmeros defeitos, não é exactamente conhecido pela contenção, discrição e “bom gosto” refinado. O electro house maximal é garrido, barato, barulhento, rápido q.b., e toma sempre o caminho mais curto para chegar ao corpo e à alma do ouvinte – é para coisas assim que os ingleses usam a expressão in your face. A estas características, os Bloody Beetroots acrescentam uma queda para o dramatismo melódico e um sentido esforço para que cada pedaço de som tenha contornos muito precisamente definidos. O que daqui resulta é, por vezes, como uma trilha sonora para desenhos animados sádicos

Margaret Atwood

Publicado na Time Out em Junho de 2010: Desforra *** Margaret Atwood Bertrand, 14,85€ O penúltimo livro de Margaret Atwood põe em papel cinco intervenções da escritora canadiana nas Palestras de Massey, transmitidas via rádio em 2008. Nestas palestras é costume reflectir-se sobre problemas contemporâneos, e não há-de existir tópico muito mais premente do que o escolhido por Atwood – a dívida. Em 160 páginas, e usando o habitual humor finamente irónico e uma não menos habitual linguagem clara e directa, Margaret Atwood desmonta com precisão arqueológica a abundante etimologia de palavras como “dívida” e “pecado”. Outras manifestações de dívida ao longo da História são retrospectivadas, da escravidão aos penhores. Mais o Comedor de Pecados, o bode expiatório e os sacrifícios humanos. É a partir do século XIX (sem coincidência, o século onde o capitalismo eclode, ainda sem uma estrutura social para amortecer os altos e baixos da economia) que a dívida invade a literatura, d’A Fo

The Shirelles

Publicado em Junho de 2010 no Atual do Expresso: Swing the Most/ Hear & Now The Shirelles Ace/Popstock Entre 1960 e 63, as Shirelles foram a primeira banda feminina a derramar sucessos em série para os tops americanos. Sucessos na forma de canções juvenis e evocativas sobre namorados, mais ou menos trágicas e com doses variáveis de violinos; canções breves, ainda com vestígios dos diners, das mesas de fórmica e dos milkshakes da alvorada do rock e do conceito de adolescência. As vozes do quarteto acolhiam composições saídas do Brill Building, e a história que assim começou é ilustre e perene, com marcos recentes nas TLC e em Britney Spears. Os dois álbuns agora reeditados e acoplados num só CD são já de um tempo (1965) de declínio da fama das Shirelles, mas a frescura continua a atravessar estas 23 faixas. São dois discos atípicos: chegado à idade adulta, o grupo entrou em conflito com a editora Scepter (questões de dinheiro de royalties em falta, como conta Tony Rounce no

Young Money

Publicado no Atual do Expresso em Junho de 2010: **** We Are Young Money Young Money Cash Money Lil Wayne fundou a Young Money há cinco anos. Hoje, e mesmo com um leque de artistas curto, a editora tem um papel essencial no hip-hop: por lá se encontram, além das rimas encharcadas em auto-tune do patrão Wayne, a suave estrela em ascensão Drake (“Thank Me Later”, o seu primeiro álbum a valer, sai em meados de Junho) e a carismática Nicki Minaj, notável pela voz carismática, pelo visual tipo vixen de Russ Meyer, por assumir a bissexualidade num meio ainda resolutamente hetero, e por uma fixação nada infantil pela Barbie. “We Are Young Money” mostra os atributos de 11 nomes do elenco da editora (mais uns quantos convidados externos) em temas que usam ritmos ponderados e de uma nitidez cristalina, a que uns gongos de plástico emprestam episódica grandiosidade. As linhas de sintetizador, omnipresentes, são também de uma clareza vítrea. Ao longe, há guitarras em apoplexia hard-rock. En

Johnwaynes

Publicado na Time Out em Maio de 2010: A Seguir Johnwaynes João Pedro Vieira “estranhou” o dia em que entrou numa discoteca e ouviu “Libertango” alinhado no meio “de coisas super-comerciais, tipo Madonna”. Foi também por esses dias que a mãe de João Pedro (aliás, Jepe) descobriu a autoria daquela versão dançável do tema de Astor Piazolla que já apanhara na rádio. “Ela virou-se para mim e disse, ‘Não sabia que tinhas feito isto. Podias ter-me contado.’” Jepe e António Bastos (nome artístico: Mr. Beat) formam a dupla aveirense Johnwaynes, que se juntou vai para cinco anos quando os Loto os convidaram para fazer uma remistura. Depois disso já viram sair uma dezena de máxis, quase todos por editoras internacionais – incluindo a nipónica Mule Musiq e a Black Label da marca germânica Compost, que lançou “Libertango” –, o que lhes vai garantindo uma certa reputação nessa espécie de contradição de termos que é o underground global da música de dança. Jepe vê os Johnwaynes como um project

Female Takeover - "Game Over"

Uma canção acaba de me atropelar. Isto é para ouvir numa praça cheia de gente, os graves a perturbar o sono das estátuas.

Keane

Publicado em Maio de 2010 na Time Out: Keane Night Train Island/Universal *** Percebe-se porque é que os Keane não querem misturar este disco, cujo lançamento assoma com relativa discrição, com a sua discografia de álbuns – mesmo que dure meia hora e traga oito temas. Night Train apalpa terreno. Testa linguagens. É um interlúdio simpaticamente partilhado pelo trio britânico, onde nada de evidente liga um grupo de canções que se espalha de forma errática por vários géneros. “Back in Time” insiste nos sintetizadores esgazeados da escola Gary Numan que irrompiam pelo último álbum, Perfect Symmetry. As duas rasantes ao hip-hop, ao lado de K’naan, transformam os Keane em sombras interessantes dos Maroon 5. “Clear Skies” é uma pastiche dos U2. Já a bela “You’ve Got to Help Yourself”, dueto bilingue com a japonesa Tigarah, avança de surpresa pela pop sonhadora de plástico; essa e “Your Love”, cantada por Tim Rice-Oxley e que podia perfeitamente ser um intrincado tema synthpop dos A-Ha

Hole

Publicado em Maio de 2010 na Time Out: Hole Nobody’s Daughter Mercury/Universal **** Quando se faz da vida uma telenovela, é natural que não sobre muito tempo para actividades complementares, mas Courtney Love lá arranjou maneira de, após um hiato de 12 anos, gravar com uns totalmente renovados Hole. Felizmente, uma vida extra-musical muito intensa também produz assunto em abundância para canções, e Nobody’s Daughter, com a sua aura simultaneamente desafiadora e extenuada, beneficia disso. O novo álbum não parte de um lugar muito distante do anterior (e brilhante) Celebrity Skin: há palmeiras californianas neste rock mainstream, e até uma canção cujo título – “Pacific Coast Highway” – encerra todo um programa. O som de Nobody’s Daughter perde uns pontos em sofisticação a favor de uma maior agressividade, e a voz de Courtney Love lembra cada vez mais uma Stevie Nicks permaturamente estoirada. Confessional, confuso, cativante.

Madness

Publicado em Maio de 2010 no Atual do Expresso: One Step Beyond Madness 2 CD Salvo/Mbari Há um programa em curso de reedições dos álbuns de originais dos Madness. Um programa com sentido de oportunidade, pois chega logo após a saída de “The Liberty of Norton Folgate”, inesperado ponto alto na carreira do septeto londrino. As versões remasterizadas e aumentadas de “Absolutely” (1980) e “7” (1981) acabam de chegar, mas foi com “One Step Beyond”, de 1979, que tudo – as reedições e a carreira dos Madness – começou. “One Step Beyond” é uma explosão na fábrica da pop. É a visão progressista, estilosa e multicultural do movimento mod abalada pelo radicalismo punk e levada ao extremo de frenesim do 2 tone, o género onde a Jamaica e a Inglaterra se encontraram no final dos anos 1970. Quase todos os Madness são exímios compositores, e em “One Step Beyond” saíram-se com 15 canções que tanto mostram o amor por Prince Buster (o tema-título é dele, ‘The Prince’ é para ele) como viajam pelo Med

Laura Marling

Publicado em Abril de 2010 na Time Out: Laura Marling I Speak Because I Can Virgin/EMI **** Não é expectável que alguém, aos 20 anos, encerre um disco já mais do que suficientemente admirável com uma canção da sua autoria cujos primeiros versos dizem que “My husband left me last night/ Left me a poor and lonely wife/ I cook the meals and he got the life”. Ainda por cima, que isto lhe saia da boca de uma forma mais do que convincente (e não, por exemplo, como se fosse uma concorrente do Ídolos a ginasticar as cordas vocais, preparando o futuro como estrela do karaoke) e que, durante aqueles quatro minutos, a esposa desprezada pudesse ser Laura Marling. Mas ela consegue-o. E é por isso e muito mais que ela, Laura Marling, é a cantora e compositora de pop-rock mais empolgante que a Inglaterra deu ao mundo desde, pelo menos, P.J. Harvey. I Speak Because I Can é o seu segundo álbum (estreou-se a solo em 2007 com Alas I Cannot Swim, nomeado para o sobrevalorizado Mercury Prize) e nã

Nu Soul Family

Publicado na Time Out em Abril de 2010: Nu Soul Family Never Too Late to Dance Universal ** As férias dos Da Weasel já originaram um disco interessante de electrónica dançável – o álbum homónimo dos Teratron, de João Nobre e Pedro Quaresma. Uma qualidade que não se repete em Never Too Late to Dance, que junta Virgul a Dino, ao DJ Alan Gul e ao baixista, errr, Bassman. Formalmente, tudo está razoavelmente no sítio neste disco dos Nu Soul Family. O uso esmagador de house e disco-sound dão aos temas um ar de hedonismo veraneante que despacha o ouvinte, metaforicamente falando, para um sábado à noite numa discoteca de praia em pleno Julho – o que é uma coisa boa. Mas há também um ar de imitação barata entranhado em Never Too Late… Um ar de disposição de lugares-comuns em grossas camadas. A que se junta o péssimo uso da língua inglesa, do narcisismo dos títulos (quase todos com um “me”, “my” ou “I”, com o apogeu no estapafúrdio “Pay My Money”) a frases descabidas (“I can’t stop to dan

Jon Rose

Publicado na Time Out em Abril de 2010: Jon Rose Auditório de Serralves Jon Rose toca violino – de muitas maneiras. Pode, por exemplo, adaptá-lo a uma bicicleta e tocá-lo à medida que pedala. Ou então pode desmantelar uma data deles (deles, violinos). Ou até fazer experiências em concertos que podem durar 12 horas. Jon Rose também toca vedações. Vedações normais, pacíficas, e vedações de arame farpado. Abundam os vídeos na net em que ele retira os sons e os ambientes mais espantosos de longas extensões de arame preso a estacas ao ar livre, geralmente no meio de nenhures, Austrália, para onde rumou nos anos 70 (ele nasceu no Reino Unido em 1951). Basta um punhado de arcos e um sistema de amplificação do “instrumento”, e o resultado tanto pode ser uma descida a húmidos e férreos corredores labirínticos como bem-humorados exercícios de swing enferrujado. E Jon Rose não se limita a tocar em pacíficos mas tórridos descampados nos antípodas ou em austeras salas de espectáculos: ele tam

Madonna

Publicado na Time Out em Abril de 2010: Madonna Sticky & Sweet Tour Warner **** A Hard Candy, outro álbum mediano numa discografia onde eles começam a ganhar a dianteira (mas, ainda assim, um álbum consciente que a pista de dança é o sítio certo para estar), seguiu-se a digressão mundial Sticky & Sweet, que passou pelo Parque da Bela Vista em Setembro de 2008 sem impressionar por aí além. Mas ao experimentar este DVD, presume-se que Madonna há-de ter feito melhorias substanciais no espectáculo nos três meses que separaram a passagem por Lisboa desta gravação efectuada em Buenos Aires. As melhorias começam pelo próprio material de Hard Candy, que aqui surge renascido e mais robusto, por virtude própria e pelo magnífico trabalho de megamixagem, remistura e reconfiguração em massa a que as canções de Madonna são sujeitas, muitas delas abrindo-se para a entrada de pedaços de temas alheios. Mas não só: “Borderline” ganha uma surpreendente versão emo com guitarras na linha d

Shirley Bassey

Publicado em Abril de 2010 no Atual do Expresso: Shirley Bassey The EMI/UA Years 1959-1979 5 CD EMI A reedição desta caixa originalmente lançada em 1994 permite acompanhar a história de Dame Shirley Bassey precisamente a partir do ponto onde “Burn My Candle – The Complete Early Years 1956-58”, do ano passado, terminava. As duas décadas aqui cobertas são as décadas maiores de Bassey. As décadas onde ela solta a voz (e de que maneira), a interpretação ganha espessura e melodrama e a base orquestral insufla exponencialmente. É sobretudo com ‘Gone’, de 1964, que ganha forma a pop adulta, ligeira e over the top que se associa à cantora, e que chegaria pela primeira vez à perfeição no mesmo ano com ‘Goldfinger’. Neste mundo o rock só se pressente, e de forma ténue, com os muitos temas de “Something” aqui incluídos; o álbum de 1970 foi porventura o seu pico artístico e comercial, com arranjos renovados e mais sanguíneos, um sopro de modernidade instrumental a evocar Isaac Hayes, e vers

The Unthanks

Publicado na Time Out em Abril de 2010: The Unthanks Auditório de Espinho Uma maneira bastante fiável de saber se uma banda de pop-rock presta ou nem por isso é ver como ela se safa no robertwyattómetro, escala criada em honra de um dos mais brilhantes e idiossincráticos criadores de música dos últimos 40 anos (sim, Robert Wyatt). O quinteto The Unthanks, do norte de Inglaterra, teve a temeridade de se lançar a “Sea Song”, se calhar a canção mais transcendente da carreira de Wyatt (foi no álbum The Bairns, lançado em 2007, quando o grupo se chamava Rachel Unthank and the Winterset), e o que lá pôs demonstra que não é uma banda qualquer. As irmãs Rachel e Becky Unthank usam as suas vozes seguras em convergências, divergências e complementaridades que tanto asseguram os mínimos essenciais da tradição folk de onde emergem como seguem para territórios mais difíceis de reconhecer. À sua volta, a carga instrumental costuma ser poupada: piano, violinos, ukelele, os pés das cantoras marc

Still Frank

Texto escrito para o programa do concerto-encenado Still Frank, apresentado a 11 e 12 Dezembro de 2010 no Teatro Carlos Alberto: Maus Fígados Isto não vai acabar nada bem. Na verdade, isto nem sequer começa lá muito bem. No início, em plena “Criação”, há um actor cansado e agoniado (Pedro Mendonça) que põe a rolar, mecânica e ruidosamente, uma máquina de costura. A velha e inútil escultura funcional de ferro e madeira ganha vida, tanta vida que o som que faz parece o som de uma locomotiva a vapor correndo, dentro do horário previsto, rumo a um inferno. A correria da máquina é amplificada, e amplificada, e amplificada. A pulsação começa a ser insustentável para as suas próprias veias, que parecem esperar que a agulha salte do seu lugar e rebente o que tem de rebentar. Este actor cansado é Frank. Frankenstein. Still Frank. Ainda franco. Ainda Frank. Frank imóvel. E a vetusta máquina de costura, que cria o primeiro de diversos instantes de música concreta neste concerto encenado,

Facebook

Gente generosa que costuma enviar-me pedidos de "amizade" para o Facebook: a página que ostenta o meu nome nessa rede só existe por questões funcionais/ profissionais (i.e., para aceder a algum conteúdo de algumas páginas Facebook). Não tenciono, nos séculos mais próximos, dar qualquer outro uso àquilo. Por isso, peço às dezenas de proponentes de "amizade" não correspondida para não me levarem a mal, e a outras pessoas que estejam a pensar enviar-me pedido semelhantes que é tempo perdido. Bem intencionado, mas perdido.

Joy Orbison - "BB"

Lá no fundo, ele é um tipo de fortes convicções tradicionalistas. Outra trip nostálgica (começam a avolumar-se) para um tempo algures ali para os lados do início dos anos 90.

Dinamarca?

O contador de cenas do Blogger diz-me que, depois de Portugal, é da Dinamarca que chega o maior número de visitantes a este blogue. Na verdade, chega aqui muito mais gente da Dinamarca do que de todos os outros países do mundo juntos. Hoje, por exemplo, e no momento em que escrevo isto, tive exactamente o mesmo número de visitas portuguesas e dinamarquesas. Lamentando desde já não conseguir colocar esta pergunta em dinamarquês, alguém consegue explicar-me, tipo, porquê a Dinamarca? (Todos os visitantes de toda a parte do universo são bem-vindos, naturalmente. Isto é pura curiosidade.)

Expensive Soul

Publicado em Maio de 2010 na Time Out: Expensive Soul Utopia New Max/Vidisco ***** Contrariando o pior lugar-comum da música popular (aquele que diz que a inspiração só existe quando se está deprimido), o terceiro álbum de New Max e Demo soa como se tivesse sido concebido em estado de paixão e felicidade, na sua variante humana, material. Sem cinismo ou pose pós-moderna. Há um mundo de coisas a acontecer nas suas 14 canções, múltiplos sons a atravessá-las. Sons com uma riqueza tridimensional, sinestésicos mas sempre com a máxima leveza. Utopia tem temas directos, soul-pop e radiosos como “Dou-te Nada”, “Só Contigo” e “O Amor É Mágico” (o acerto dos títulos com a música é outro dos inúmeros atributos do disco), que são o som de uma Motown que não chegou a sair de Detroit. Em “Deixei de Ser Bandido”, a lubricidade da guitarra e dos sintetizadores correm exactamente no sentido oposto ao tom de regeneração e fidelidade afirmado nos versos; isto antes de o tema ser tomado, por bre

Eminem

Publicado em Julho de 2010 na Time Out: Eminem Recovery Aftermath/Universal **** Não negando a mestria da empreitada, as reacções críticas a Recovery têm-se fixado numa sensação de cansaço da auto-comiseração de Eminem, dos seus recorrentes lamentos de incompreensão. É de desconfiar se estes ouvintes passaram, mentalmente, das três primeiras faixas mas sim, o egocentrismo corre com frequência ao longo deste disco, e se calhar a metafórica saída de casa era capaz de não fazer mal algum a Eminem. Mas também não faltam os momentos de humor escurinho e de violência esticada até à caricatura. Já as tiradas ad hominem do passado partilham desta vez o protagonismo com exortações positivas a gente morta (Proof) e viva (Kanye West merece duas menções – e há momentos em que Recovery acrescenta peças ao vitral de desolação de 808s & Heartbreak). Eminem lamenta o quão sozinho se sente neste mundo, e as fotos da dupla capa sublinham o efeito: Eminem caminhando sozinho pela estrada, de

Dealema

Publicado em Abril de 2010 na Time Out: Dealema Arte de Viver Optimus/Compact **** O segundo álbum dos Dealema (V Império, de 2008) não teve a atenção do mainstream que seria lógico esperar. O que fazer a seguir? Simples: um EP de instrumentais de um hip-hop geralmente clássico mas vivo e apurado, com rimas de variedade e qualidade à altura. No tema título os ritmos fustigam fundo, a que se segue um fio de canções cinza chumbo, apocalípticas mas não niilistas (“A Causa Perdida”), com humor negro (“Família Malícia”), e paranóia à deriva num labirinto mental (“O Pêndulo”). A fechar, “Olhos de Vidro” foge aos moldes com a entrada de guitarra e baixo, de onde resulta um convincente tema hip-hop/ emo/ rock FM, Ex-Peão mostrando no refrão que se safa bem a trocar o rap pelo canto. Arte de Viver não se atola em tribalismos nem auto-indulgência. São depurações de uma linguagem familiar, mas depurações finamente escolhidas. Meia dúzia de canções que valem por muitos álbuns inteiros.

Christina Aguilera

Publicado em Junho de 2010 na Time Out: Christina Aguilera Bionic RCA/Sony *** A dualidade da fantástica capa de Bionic é a imagem certa para explicar o que aqui se ouve. É um disco muitas vezes sexualmente explícito e ao mesmo tempo de fibra sonora 100% sintética. É longo (23 faixas) e atravessa três estados bem demarcados (erótico dançável, sentimental, pop folgazão), mas todos os capítulos possuem momentos descartáveis. Tem um cântico em louvor do sexo oral que é um desvario de vozes cruzadas e ritmo de espaçamento largo (“Woohoo”, o melhor instante do álbum, com presença crucial de Nicki Minaj), mas também não faltam os temas em que parece estar-se perante uma versão musicada mas não muito convicta de Sex, o polémico livro de Madonna de 1992. Prova que o melhor que pode acontecer a M.I.A. é dilui-la numa equipa de compositores (assim nasceu o eufórico “Elastic Love”), mas que é um excesso de generosidade esperar grandes canções pop de Le Tigre e Peaches (juntas no incaract

Blind Zero

Publicado em Junho de 2010 na Time Out: Blind Zero Luna Park RedLemon/EMI **** A história de Luna Park e dos Blind Zero em 2010 é uma história improvável. Sem álbum novo desde 2005 e sem editora multinacional, o mais plausível seria imaginar um grupo em suave dissolução, o seu ponto alto há muito ultrapassado. Mas eis que eles regressam num formato semi-independente e, em vez de aproveitarem a liberdade para soltarem um pesaroso e naturalista pastelão inspirado em Jeff Buckley ou nos dias ruins de Neil Young, concebem o melhor, mais directo e comercial (no sentido generoso do termo) lote de canções da sua carreira. Mais de metade de Luna Park debruça-se sobre o que aconteceu ao rock americano dos anos 70 quando chegou aos 80s. Produção mais limpa, adeus às gangas e à poeira da estrada, mais superfícies luminosas e vidros espelhados, e carros vistosos com ar condicionado. As canções vêm repletas de melodias – daquelas melodias ambíguas e agridoces. Também não faltam meticulos

Tinchy Stryder ft. Giggs, Professor Green, Tinie Tempah, Devlin, Example & Chipmunk - "Game Over"

Ou: as Páginas Amarelas do hip-hop e do grime britânicos numa canção com uma estrutura pouco vulgar (as sete vozes/ personalidades devem ter exactamente o mesmo tempo de antena, incluindo o anfitrião Stryder, que chega no fim) e uma concretização densa, a rimar com o nível da ambição. Isto é, o que Kanye West podia ter realizado no novo disco se não lhe tivesse dado para a punheta.

Chase & Status ft. Liam Bailey - "Blind Faith"

A música ascende espontaneamente do fumo tóxico e do caldo químico onde foi gerada. É uma canção que pega lentamente fogo à cabeça. Slow energy flash.

Kanye

Com uma dose maciça de caridade e de consideração pelo seu percurso anterior, My Beautiful Dark Twisted Fantasy mereceria três estrelas (em cinco). Auto-indulgente, barroco no mau sentido, surpreendentemente desinspirado, self-righteous, umbiguista. Decepcionante. Tem uma nuvem cinzenta a pairar sobre os seus 78 minutos. Ou seja, é um disco para a demografia indie. Francamente, daqui para a frente é de esperar o pior.

El-B ft. KC Deep - "Deep Down"

House clássico, mais um bocadinho de UK Garage, por um poço de criatividade aparentemente sem fundo chamado El-B.

After School - "Bang!"

Os universos das Pussycat Dolls e das cheerleaders transpostos para a Coreia do Sul e digitalmente ampliados. Glorioso.

Nicole Scherzinger - "Poison"

As minhas desculpas por ser praticamente a última pessoa no planeta a reparar na magnificência desta canção - sobretudo do refrão.

R. Kelly - "Love Letter"

A ternura em pessoa. Não é a melhor canção natalícia dos últimos 20 anos (essa é, obviamente, de Mariah Carey), mas apanha com mestria e groove o espírito da cena.

Yasmin - "On My Own"

Parece que estará à venda no fim de Janeiro. É capaz de ser a primeira canção grande de 2010. Pela voz evocativa mas forte, pela orquestração discretamente sumptuosa e por aquele cabrão de magnífico novelo rítmico de origem difusa (os últimos 30 segundos...). Por alguma razão, há aqui um certo travo a anos 1990-95, mas num contexto urbano-londrino totalmente 2010.