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A mostrar mensagens de maio, 2010

Sonic Youth

(publicado na Time Out Porto de Abril) Sonic Youth Coliseu, Terça-feira 23 Ironizar com uma banda que ostenta o nome de Juventude Sónica apesar de já existir há 29 anos e de os seus elementos mais novos estarem quase nos 50 é uma coisa forçada e sem grande sentido – a frescura estética está longe de se medir apenas pela longevidade. Mas não se pode dizer que os Sonic Youth não se tenham posto a jeito para esse tipo de brincadeiras. O prestígio em que o grupo de Thurston Moore e Kim Gordon repousa baseia-se em supostas virtudes (padrinhos da contracultura indie, mestres a moldar o ruído de guitarras em estruturas que oscilam entre a vanguarda contemporânea e o punk-rock) que só têm mesmo eficácia enquanto movimentos marginais de reacção a uma cultura mainstream. O que fazer, então, quando parece que já não há mais ideias novas para explorar e décadas pela frente até ter direito ao cheque da reforma? Se forem uns Rolling Stones, há a hipótese de ir refinando um formato clássico de

Crookers

(publicado na Time Out Porto de Abril) Crookers Teatro Sá da Bandeira, sexta-feira 30 A Itália tem um bom nome a defender no universo da música de dança – e se ainda não tinha reparado nisso, é favor deitar a mão a uma compilação decente de italo-disco. Nos anos 80, o italo-disco pegava no ouvinte e punha-o a dançar nas nuvens. E com vontade de se despir. Desde 2003 que os milaneses Phra e Bot também põem pistas de dança a fervilhar, mas as ferramentas musicais que usam em nada se assemelham à grandiosa tapeçaria do italo-disco. Os Crookers põem a música a falar alto. A linguagem mais usada é a do electro house, com quantidades avantajadas de rap ao barulho. Imagine-se que o big beat dos Chemical Brothers e Fatboy Slim havia sido desmantelado e encaixotado no final dos 90s, que a empresa de mudanças que o transportou para os dias de hoje perdeu o livro de instruções e que uma nova geração abriu as caixas e remontou as peças de uma forma consideravelmente diferente. É isso que o c

Gil Scott-Heron

(publicado em Março na Time Out) Gil Scott-Heron I’m New Here XL/Popstock *** Richard Russell, patrão da editora britânica XL, arrancou do silêncio o poeta da América urbana dos anos 70 Gil Scott-Heron. Pegou-se em parafernália electrónica e num reduzido leque de músicos (Damon Albarn e Chris Cunningham são os mais conhecidos) e fez-se o primeiro disco de originais em 16 anos do autor do enjoativamente citado “The Revolution Will Not Be Televised”. A voz de Scott-Heron aos 60 anos tem marcas profundas do passar do tempo: enrola-se, perde-se entre a língua e os dentes, mastiga e compromete a clareza de outros tempos. O resultado é umas vezes tocante (cola-se bem a “Running”, os versos rodeados, à boa maneira da música concreta, por uma base rítmica que se assemelha ao bater de uma bola de basquetebol), outras irremediavelmente decadente, num registo entaramelado a lembrar Mark E. Smith dos Fall (como em “I’m New Here”, cantiga para guitarra acústica escrita por Bill Callahan).

Alexandra Burke

(publicado em Março na Time Out) Alexandra Burke Overcome Syco/Sony *** Há fortes probabilidades de um álbum de estreia de uma cantora revelada num concurso televisivo soar a um catálogo de habilidades. Uma forma, quase sempre desnecessária, de querer mostrar que não se é uma personagem unidimensional. Overcome não sofre muito desse efeito Maria-vai-com-todos. A cantora britânica Alexandra Burke venceu o X Factor de 2008 e fez furor com uma versão de “Hallelujah”, mas o seu primeiro longa-duração não tem mais versões e praticamente não regressa às baladas. Em Overcome há uma voz de diva que se lança a um repertório situado na intersecção do r&b, da pop sintética e do eurotecno. Um repertório inspirado, recolhido junto de fontes tão fiáveis como Ne-Yo, RedOne e os StarGate, e que cobre a consistência ainda tremelicante da empreitada.

Nick Jonas & The Administration

(publicado em Março na Time Out) Nick Jonas & The Administration Who I Am Hollywood/Universal *** Nick Jonas tornou-se famoso com a razoável pop-rock dos Jonas Brothers, mas isso não anula o suave efeito de surpresa provocado por esta estreia a solo. O músico e compositor de 17 anos diz que esta aliança com o quarteto The Administration tem como referência Bruce Springsteen e a E Street Band, mas o que se ouve em Who I Am é mais complexo e até mais auspicioso. A Administration contém três músicos (Tommy Barbarella, Michael Bland e Sonny Thompson) que nos anos 90 pertenceram à New Power Generation de Prince, e essa experiência injecta coesão e músculo funk a um apreciável repertório rock middle of the road. A contaminação Princepesca é tão generalizada que até a voz de Nick Jonas, um miúdo assustadoramente precoce, soa por vezes igual à do génio de Minneapolis.